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Vi finalmente, só na semana passada - 10 anos após ter perdido a sua exibição na RTP 2 - o filme Libertarias, de 1996, co-escrito e realizado por Vicente Aranda.
A começar, o genérico inicial do filme é acompanhado por aquela que é simplesmente a mais bela interpretação que alguma vez ouvi do hino A Las Barricadas.
Pelo texto que é mostrado no início, e por não saber, na altura, que realizador é este, fiquei inicialmente na dúvida se seria mais uma tentativa por parte do "sistema" de tentar retratar o Anarquismo como algo utópico e inalcançável. Mas depois de ter visto o filme e de me ter informado sobre quem é este realizador, parece-me mais ser algo na mesma onda do filme Capitães de Abril, de Maria de Medeiros, em que se tenta retratar o assunto sob um ponto-de-vista romântico.
O filme centra-se claramente no que foram os aspectos mais belos e positivos da Revolução, não esquecendo, no entanto, também os mais negativos, que foram (algumas das coisas que ocorreram e com as quais discordo profundamente) a destruição de locais de culto e obras de arte cristãos e até o fuzilamento de elementos do clero. (O qual, note-se, também não era composto por nenhuns "santinhos" e que, como sempre, tomou o lado dos fascistas e apoiava os fuzilamentos de quem se limitava a defender um governo democraticamente eleito...)
Mas quanto à história em si, parece-me ser um filme interessante. Sobretudo pelo enfoque principal que faz no papel feminino na Revolução. Mostrando que o activismo, ao contrário do que infelizmente se vê muito hoje em dia, não é essencialmente uma coisa de homens. E que até nas acções que exigem mais coragem por parte de quem nelas toma parte, não só há lugar para as Mulheres, como há aquelas que queiram participar nessas mesmas acções.
Sobre a coragem feminina, há até, a dada altura, uma cena que me deixou com os olhos ligeiramente aguados, em que uma miliciana afirma:
"Não entendemos porque a Revolução tem de ocorrer a cargo de metade da população apenas. Somos anarquistas. Somos libertárias. Mas também somos mulheres e queremos fazer a nossa Revolução. Não queremos que nos façam eles. Não queremos que a luta se organize à medida do elemento masculino, porque se deixarmos que seja assim, estaremos, como sempre, f**idas. Queremos dar tiros para poder exigir a nossa parte na hora da partilha. E, sobretudo, queremos deixar bem claro que, nestes momentos, o coração não nos cabe no peito... E seria um desatino ficarmos em casa a fazer tricô. Queremos morrer. Mas queremos morrer como homens. Não viver como criadas."
Um dos vários retratos belos, do ideal libertário, que são feitos neste filme.
Mas mais bela ainda, foi, para mim, a cena final, que me fez chorar à brava. Penso que, por uma mistura entre a beleza do que é descrito, por simbolizar a morte da Revolução e por o ideal que nela é retratado, não só ser algo que nunca verei, como algo que a minha consciência fortemente sugere que está, cada vez mais, longe de alguma vez se tornar realidade...
Deixo-vos com o genérico de que falava, que é mostrado no início do filme.