REDE VOLTAIRE | DAMASCO (SÍRIA) | 11 SETEMBRO 2013
Thierry Meyssan analisa as contradições e as incoerências dos serviços secretos estadunidenses, britânicos e franceses a propósito do suposto massacre químico de Ghouta.
Thierry Meyssan: Os serviços secretos ocidentais estão seguros, a 100%, de coisas que não são lógicas:- Eles pensam que os gases de combate podem descriminar entre homens e mulheres.
- Eles observaram a preparação de gases de combate, mas não interviram para impedir o seu uso. Pelo contrário, propuseram punir aqueles que os usaram.
- Eles explicam que as crianças foram mortas no dia 21 de Agosto, enquanto os vídeos são anteriores e as crianças provêm de famílias que apoiam o Estado sírio e o governo de Bashar al-Assad.
- Eles dizem dispor de intercepções telefónicas. Mas, não são eles que fazem essas intercepções telefónicas.
- E, finalmente, o caso da "linha vermelha". Visto que, de acordo com o chefe do Comité Conjunto dos Serviços Secretos britânico, Jon Day, a Síria teria usado, anteriormente, 14 vezes gases de combate. Mas, sem isto ter sido claramente documentado. Porquê 14 vezes antes? Porque, 14 vezes é o número de uso, pelos EUA, de armas químicas no Iraque, em 2003-2004. E, evidentemente, esta seria simplesmente a 15ª vez que permitiria atravessar a famosa "linha vermelha" que necessita de uma resposta da parte das grandes potências.
O massacre de Ghouta
As contradições dos serviços secretos ocidentais
TM: O governo dos EUA e também a França asseguram que o exército árabe sírio - o exército legítimo do Estado sírio - procedeu a um massacre químico nos arredores de Damasco, na cintura agrícola - a Ghouta - que rodeia Damasco, no anterior dia 21 de Agosto.Então, vou-vos mostrar que tal afirmação é completamente fabricada e que em nada corresponde à realidade. Para isso, vou-me basear em documentos publicados, muito oficialmente, pelos governos dos EUA, Reino Unido e França.
1 - O número de vítimas varia na proporção de 1 para 5
TM: Na nota de informação que foi publicada pelos EUA, podemos ler que tal ataque causou a morte de, pelo menos, 1429 pessoas.Mas, quando vemos o documento francês equivalente, já se trata de apenas 281 mortos, que foram contados, observando vídeos na Internet. Esses mesmos documentos precisam que uma "Organização Não Governamental" (é preciso usar o termo entre aspas), os Médicos Sem Fronteiras, contou, pelo governo francês, 355 mortos em hospitais na região de Damasco.Portanto, a diferença de avaliação do problema varia, de um a cinco, consoante a fonte.Depois, uns e outros fazem referências aos vídeos, para atestar a veracidade dos factos.E, estes mesmos vídeos, não estão de acordo quanto ao número. De acordo com os documentos dos EUA, há uma centena. Enquanto que, de acordo com o governo francês, há apenas 47.
2 - Paris e Washington validaram os vídeos anteriores a 21 de Agosto
TM: Quando vemos estes vídeos, podemos constatar que alguns são anteriores ao massacre.Com efeito, se vocês os virem no YouTube, verão que eles foram publicados no dia 20 de Agosto. Poderia ser o dia anterior - mas não necessariamente - dada a diferença horária de 9:00 horas entre a Síria e a Califórnia, onde se encontram os servidores do YouTube. Contudo, podem constatar que, nas cenas exteriores, o Sol está no seu zénite.Pelo que, é cerca de meio-dia. E isto não pode ter sido publicado no dia 21 de Agosto. Teve, necessariamente, de ser registado antes desta data.É, portanto, em provas sem valor que se fundamentam os serviços secretos dos EUA e da França.
3 - Um gás que poupa as mulheres
TM: Nesses documentos, dizem-nos que a maior parte das vítimas são crianças.Efectivamente, se virmos estes vídeos, podemos ver que muitas das crianças estão a agonizar. São todas crianças da mesma idade. Há também adultos, mas os adultos são todos homens, geralmente, de idade de combate.Não há mulheres. Com duas excepções, não há mulheres entre as vítimas anunciadas. Das 1429 vítimas contadas pelos Estados Unidos, não haverá mais de duas mulheres.Esta seria a primeira vez em que gases descriminam as pessoas de acordo com o seu sexo.
4 - As vítimas são prisioneiros dos jihadistas
TM: Quando estas imagens são difundidas, a primeira coisa que sobressai é que estas crianças não estão acompanhadas.Isto é muito chocante, de acordo com a cultura do Médio Oriente, porque, jamais se deixam os corpos dos mortos sem estarem acompanhados, especialmente, quando se tratam de crianças.Portanto, estas crianças estão sem os pais.E vemo-las nas mãos de pessoas, que são apresentadas como auxiliares de acção médica a tentar salvá-las. Mas, não compreendemos bem o que esses auxiliares de acção médica estão a fazer.De facto, há uma razão muito simples... Que é que, estas crianças não são vítimas de ataques químicos.São crianças que foram raptadas há duas semanas, no princípio de Agosto, na região de Latakia, a 200 km de Ghouta.Foram raptadas durante um ataque dos jihadistas contra aldeias alauítas fiéis ao governo. A maior parte das famílias foi massacrada. Alguns sobreviveram. Nos sepulcros em redor de Latakia, houve mais de um milhar de mortos.E estas crianças, das quais estivemos sem notícias, durante duas semanas, reaparecem nestes vídeos.Aquelas que têm familiares ainda vivos foram reconhecidas por eles e essas famílias apresentaram queixa por assassinato porque, se não perceberam, nos vídeos, o cuidado que lhes está a ser prestado é, simplesmente, que elas não sejam ajudadas.Estão-lhes a dar injecções intravenosas de venenos, para as assassinar em frente às câmaras.
5 - Os serviços secretos teriam um meio secreto de analisar amostras humanas
TM: Os estadunidenses, britânicos e franceses dizem que as vítimas foram gaseadas com gás sarin, com uma mistura de gases que inclui gás sarin. E, para isso, baseiam-se em análises feitas pelos seus próprios laboratórios a partir das suas próprias amostras, colhidas no sítio.O que é totalmente impossível, porque a ONU também foi a esse local, colheu amostras e precisa de mais doze dias suplementares para poder cultivar os tecidos humanos, que foram colhidos, e ser capaz de os analisar.Portanto, dizem-nos que os EUA, França e Reino Unido têm métodos secretos de investigação, totalmente desconhecidos do mundo científico, que permitem, instantaneamente, cultivar tecidos humanos e saber o que daí advém.
6 - Os Estados Unidos terão observado a preparação do crime, durante quatro dias, sem terem interferido
TM: Ainda mais estranho, na nota de James Clapper, Director dos Serviços de Informações estadunidenses, aprendemos que, como prova final, os EUA terão observado, durante os quatro dias anteriores, o exército sírio a misturar os componentes de gás sarin e a preparar o veneno mortal para uso imediato.Mas, o que não compreendemos é que, se viram isso durante quatro dias porque não disseram nada e porque não interviram?
7 - Uma intercepção telefónica fornecida por Israel
TM: Da mesma maneira, os EUA, Reino Unido e França afirmam, cada um, ter interceptado conversas telefónicas entre um alto funcionário do Ministério da Defesa sírio e o chefe das unidades que lidam com gases de combate, em que o Ministério sírio terá entrado em pânico devido ao uso desses gases. Isto, seriam mais provas da responsabilidade síria.Mas, estas provas não foram colhidas por tais serviços secretos. Foram-lhes fornecidas pela Unidade 8200 da Mossad israelita, tal como anunciou, perante tais serviços secretos, a televisão israelita...
Televisão israelita: "As forças armadas israelitas afirmam ter interceptado comunicações do governo sírio que demonstram que o regime de Bashar al-Assad é responsável pelo recente ataque químico que causou centenas de mortos, entre civis, num país devastado pela guerra."
8 - Ausência de sintomas causados por gás sarin
TM: Nos vídeos, as vítimas têm tremores e babam-se. Isso é muito característico, normalmente, das intoxicações com gases de combate.Excepto que, o gás sarin não causa uma baba branca, mas uma baba amarela. E não é isso que vemos nesses vídeos. Por isso, não pode ter sido gás sarin que foi usado para intoxicar as pessoas que morreram.
Os dirigentes dos Estados Unidos, Reino Unido e França são passíveis de ter de enfrentar o Tribunal Penal Internacional
TM: Em conclusão... Este caso é totalmente fabricado. Emerge da propaganda de guerra. E a propaganda de guerra é, de acordo com o Direito Internacional, um crime muito grave, porque é um crime contra a Paz, o qual permite a perpetração de outros crimes, incluindo crimes contra a Humanidade.